De volta para o futuro (Conquistando sensibilidades)
Marisa Monte no duplo lançamento Infinito Particular e Universo ao Meu Redor não perde o rumo e convida o ouvinte a entrar junto com ela num vasto ambiente de referências (e reverências), mas adverte: "Só não se perca ao entrar no meu Infinito Particular". Ela não se perde no universo informativo que paralisa a vida, nem repete o coro dos contentes que parece tomar conta dos figurões da MPB. Ela quer conquistar provocando, não com bombas ou ruídos, mas com harmonias, palavras, texturas, paisagens e cores.
Ali os olhos vidrados, acostumados ao brilho veloz dos pixels, descansam. Os ouvidos ensurdecidos (ou seria ensandecidos?) pelos barulhos de explosões de torres, metrôs e batidas eletrônicas voltam a ouvir sutilezas de água e sussurros de pássaros. A mente delira devagar como um doce que derrete na língua.
A cantora provoca a sensibilidade empedernida do ouvinte: "Atire a primeira pedra/ Quem não sofreu/, quem não morreu por amor/ Todo corpo que tem um deserto/ Tem um olho de água por perto". E é esse olho de água que Marisa quer conquistar. Para isso utiliza máquinas de guerra não ortodoxas: de canção de ninar a sambas da Velha Guarda da Portela; de David Byrne a Paulinho da Viola. Tudo em prol do devaneio tranquilo, da poesia escondida nas frestas da semana, da vida que parece fugir no noticiário.
Marisa Monte utiliza feitiços, é desleal - e gostamos que seja assim, quando menos esperamos estamos implorando: continue! continue!-. Devagar (essa parece ser a palavra certa) somos envolvidos em um mundo de poesia e simplicidade, de alegria e suavidade. De Infinito Particular a Universo ao Redor passamos num piscar de olhos, o dia lá fora parece correr como um rio. Os sambas do segundo cd não são nostálgicos, não parecem fazer parte daqueles sambas-pra-gente-satisfeita. São antes de tudo odes ao futuro. Sim, a Velha Guarda é o futuro no Vilarejo da cantora. A conquista da sensibilidade alheia através do devaneio tranquilo possibilitou a exaltação da simplicidade. E o que é o samba além de simplicidade? Portanto, se você for tomado por um sorriso ao ouvir soletrar a palavra "sim" ou por assobios, não se assuste, Marisa Monte conquistou o seu país.
E o samba é a motivação e a coroação dessa conquista. Através dele a cantora carioca organiza o universo ao redor selecionando no infinito das referências aquilo que a toca mais, tanto pela nostalgia que provoca quanto pelas possibilidades que desperta. Sensibilizada desde criança pelo samba, Marisa retribui a gentileza sensibilizando para o samba, promovendo assim uma dupla sensibilização e fechando num movimento cíclico seu universo - o samba renovado e re-vivido pode ter o poder de conquistar mais territórios, assim como aconteceu com ela.
O lançamento simultâneo dos cds não é por acaso. Infinito Particular é uma máquina de guerra preparada para conquistar sensibilidades e Universo ao Redor é o coroamento da conquista, a porta aberta para o futuro. Portanto, ao colocar os cds para rodar tenha cuidado, você pode ser conquistado, mas não diga que não foi alertado pela cantora: "Eu vou fazer/ Um movimento amor/ Uma canção pra inventar o nosso amor/ Eu vou fazer/ Uma revolução", profetiza. E faz mesmo.
3 Comments:
Estes são seus últimos trabalhos? Vou procurar aqui em Porto para ouvir, tem uma galera que fica em transe com essa mulher!
Ah, mas e eu quem nem tinha atinado que Marisa, é verdade, tem duplo novo, agora fico aqui te lendo e penso: Por que só estou ouvindo música velha?
Vou já atrás de ouvir o que tu conta, que sem querer estás me influenciando.
Your are Nice. And so is your site! Maybe you need some more pictures. Will return in the near future.
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