terça-feira, março 07, 2006

Passageiro


As notícias cotidianas chegam como um ruído aos meus ouvidos. Ligo uma música. O pequeno suspense de tocar notas graves é suavizado pela melancólica alegria de uma síncope no piano. Esse jogo é levado em crescendo até que suaves acordes de uma guitarra entram em cena favorecendo a visualização de um ambiente mais intimista. Intimismo em amplas galerias. Cavernas e pubs, ecos da aventura humana na América. O piano volta à cena, os acordes do baixo podem ser ouvidos por entre as ligeiras frestas. Um silêncio preenchido pela imaginação. O piano cessa. Quem me conduz agora são os sons graves, quase inaudíveis, por isso mesmo delíciosos, do baixo. Esse som grave carrega meu corpo com um roçar, sinto-me, em segundos, leve, flanando entre becos esquecidos de alguma cidade chuvosa onde observo a leve tristeza dos transeuntes, a violência voraz dos automóveis, a vertigem dos arranha-céus - saboreio morangos. Uma criança com roupas vermelhas me observa. A insistência de alguns acordes servem como mote para o suave retorno. O som do piano, não mais sincopado, ameno, belo, me ampara em seus braços. Retorno com um sabor agridoce em meus lábios.
Levanto-me e saio. Ouço o ruído das notícias descer pela sarjeta das ruas do meu bairro. Sigo subindo a rua (o vento por aqui é mais frio). A pequena solidão de observar o cotidiano de pessoas desconhecidas me deixa alegre. Continuo meu caminho por entre as ruas vizinhas e a contente sobriedade das casas pequeno-burguesas, olho de soslaio para a sarjeta e sorrio.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

muito bom isso.
queria ter um filho assim.

14:46  
Blogger LSM said...

Vou ter de ser repetitiva; muito bom esse.

16:20  

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