quinta-feira, janeiro 24, 2008





























































sexta-feira, outubro 06, 2006

terça-feira, julho 18, 2006

Mea Culpa

...que se fez aqui a morada de vozes des-conhecidas eu já sabia. Mas não sabia quais vozes eram verdadeiras, quais eram falsas. (Se é que importa realmente saber). O fato é que durante dois anos, mais ou menos, incorporei falas e atitudes que não condiziam com algo (sei lá o quê) que poderia ser mais próximo de atitudes esperadas por um outro eu que neguei por essas mesmas presenças. Um círculo vicioso que ficou visível neste espaço (virtual). Meus leitores (talvez seja demasiada pretensão que a[s] minha[s] voz[es] ecoe[m] no ouvido de outrem no outro lado do espelho) sempre muito gentis não manifestaram nenhum descontentamento pelo fato de que as palavras que digito fossem sempre tão iguais em expressar clichês. Prometo fazer algo a respeito (mas não prometo cumprir). Sim, diria, é muito fácil repetir, repetir, repetir. É mais fácil, é verdade, do que permitir que o tempo se encarregue das palavras certas no momento certo. A ação (dolorosa) de transformar a poeira acumulada da vida em palavras, frases e sentido foi banalizada pelos blogs (há quem diga que a culpa é do papel em branco que aceita tudo que nele pousa, agora colocam a culpa no monitor em branco), por isso ficou tão fácil escrever por comodismo e ler (bem, admito, escrever mais do que ler, ou não, nem ler, nem escrever... postar e comentar)... Enfim, não tenho o que escrever aqui (por enquanto) e vejo que já ultrapassei o limite para dizer que não tenho nada a dizer. Obrigado àqueles que (não) lêem isto aqui.

quarta-feira, maio 31, 2006

Teologia asfáltica


Devaneios de terra, unhas encravadas na carne, pés na terra.
O atrito com o asfalto não produz fagulhas, mas imagens.
Ventos irradiam da boca do céu,
levantam migalhas perdidas no mar azul,
elevam os cabelos,
pêlos soltos nos pedais.
Na circunvolução palpitante entre os raios na noite fria,
Ladeira-eu vou na veloz cidade.
Correntes imensas em meu peito.
A cabeça esvoaçante.
Uma dor física que é prazer e evoca antigos Altares, pés-de-bode.
A cruz-mor de asfalto, com a morte toda veloz, fugidia, enamora os veículos
- mísseis certeiros em direção ao subúrbio.
Certa paz televisiva de fim-de-tarde o aguardam.
Ignaros homem-máquinas.
Vivo ali, entre o vermelho e o amarelo enquanto a morte segue o curso seco do rio.
Enquanto escoa o eco metálico de petróleos ancenstrais a densidade do ar amolece minha mandíbula,
assim desencravo os freios rumo ao paraíso.
Saliva e graxa, suor.
Grossa cobertura de tédio e seios,
domingo-hoje velho veio de vidro.
Pax americana cingida em dias de esforço e dias de tola alegria
circular. Aviões e pássaros que se misturam entre o cântico dos ângelus
no doce inferno de uma infância prolongada & da violência ruminada.
Catarse videolátra que expõe mundos destruídos e pandas idiotas
famílias brancas e filas da previdência.
Cavalgo o azul sobre as antenas de TV e o lixo nas ruas,
assim continuo caminhando entre o êxtase do nada e o
delírio esquizo
mero-eu, mera metade da face oculta
do eu, perdido entre o meio
inatingível e o circular
sempre belo.

segunda-feira, maio 01, 2006

De volta para o futuro (Conquistando sensibilidades)


Marisa Monte no duplo lançamento Infinito Particular e Universo ao Meu Redor não perde o rumo e convida o ouvinte a entrar junto com ela num vasto ambiente de referências (e reverências), mas adverte: "Só não se perca ao entrar no meu Infinito Particular". Ela não se perde no universo informativo que paralisa a vida, nem repete o coro dos contentes que parece tomar conta dos figurões da MPB. Ela quer conquistar provocando, não com bombas ou ruídos, mas com harmonias, palavras, texturas, paisagens e cores.
Ali os olhos vidrados, acostumados ao brilho veloz dos pixels, descansam. Os ouvidos ensurdecidos (ou seria ensandecidos?) pelos barulhos de explosões de torres, metrôs e batidas eletrônicas voltam a ouvir sutilezas de água e sussurros de pássaros. A mente delira devagar como um doce que derrete na língua.
A cantora provoca a sensibilidade empedernida do ouvinte: "Atire a primeira pedra/ Quem não sofreu/, quem não morreu por amor/ Todo corpo que tem um deserto/ Tem um olho de água por perto". E é esse olho de água que Marisa quer conquistar. Para isso utiliza máquinas de guerra não ortodoxas: de canção de ninar a sambas da Velha Guarda da Portela; de David Byrne a Paulinho da Viola. Tudo em prol do devaneio tranquilo, da poesia escondida nas frestas da semana, da vida que parece fugir no noticiário.
Marisa Monte utiliza feitiços, é desleal - e gostamos que seja assim, quando menos esperamos estamos implorando: continue! continue!-. Devagar (essa parece ser a palavra certa) somos envolvidos em um mundo de poesia e simplicidade, de alegria e suavidade. De Infinito Particular a Universo ao Redor passamos num piscar de olhos, o dia lá fora parece correr como um rio. Os sambas do segundo cd não são nostálgicos, não parecem fazer parte daqueles sambas-pra-gente-satisfeita. São antes de tudo odes ao futuro. Sim, a Velha Guarda é o futuro no Vilarejo da cantora. A conquista da sensibilidade alheia através do devaneio tranquilo possibilitou a exaltação da simplicidade. E o que é o samba além de simplicidade? Portanto, se você for tomado por um sorriso ao ouvir soletrar a palavra "sim" ou por assobios, não se assuste, Marisa Monte conquistou o seu país.
E o samba é a motivação e a coroação dessa conquista. Através dele a cantora carioca organiza o universo ao redor selecionando no infinito das referências aquilo que a toca mais, tanto pela nostalgia que provoca quanto pelas possibilidades que desperta. Sensibilizada desde criança pelo samba, Marisa retribui a gentileza sensibilizando para o samba, promovendo assim uma dupla sensibilização e fechando num movimento cíclico seu universo - o samba renovado e re-vivido pode ter o poder de conquistar mais territórios, assim como aconteceu com ela.
O lançamento simultâneo dos cds não é por acaso. Infinito Particular é uma máquina de guerra preparada para conquistar sensibilidades e Universo ao Redor é o coroamento da conquista, a porta aberta para o futuro. Portanto, ao colocar os cds para rodar tenha cuidado, você pode ser conquistado, mas não diga que não foi alertado pela cantora: "Eu vou fazer/ Um movimento amor/ Uma canção pra inventar o nosso amor/ Eu vou fazer/ Uma revolução", profetiza. E faz mesmo.