Powaqqatsi - uma vida em transformação
Seguem homens em fila indiana, negros de terra, curvados pelo peso que carregam, nos rostos diferentes expressões demonstram e escondem ao mesmo tempo o sofrimento. Assim começa Powaqqatsi, segundo filme da trilogia qatsi de Godfrey Reggio. Para quem viu o primeiro filme nada aqui é novidade, imagens belíssimas regidas pela música de Philip Glass narram uma história de contradições ambientada no mundo contemporâneo. Uma bela narrativa que não necessita de palavras.
A transformação da natureza pelo ser humano é ditada pela necessidade própria de um animal que não se adapta facilmente ao ambiente. As diversas culturas dialogam cada uma à sua maneira com essa luta de titãs, entre a necessidade humana e as forças da natureza, nascendo assim diferentes formas de trabalho numa tentativa, sempre vã, de colocar um ponto final nesse duelo. É o que nos mostra o filme em questão, focado no chamado Terceiro Mundo, África, Ásia e a América Latina, as imagens nos apresentam diferentes povos no trato com a natureza, suas relações com o trabalho manual num esforço de tirar o sustento necessário à vida. Uma ode à diversidade cultural, uma profusão de cores e imagens contrastam povos, suas festas, suas cores e seus sofrimentos, dando no fim a sensação de que a diferença enriquece e alimenta o planeta, conseqüentemente o ser humano.
Entretanto, toda essa riqueza é cortada pelo som do movimento de uma locomotiva, máquina que traz o progresso, a modernidade. Nesse momento o que era belo se torna repetitivo, as cores esmaecem, o esforço é substituído pela velocidade, o ser humano pela máquina, a diversidade pela repetição. Nas grandes cidades, homens, mulheres e crianças são todos parecidos, a sujeira, a pressa e a fumaça dão aos rostos a mesma expressão. A diversidade cultural se reduz a um exército, sempre em crescimento, comandado pela cultura de massa.
Um belo filme que critica o mundo contemporâneo e suas contradições, focado nos impactos causados na natureza e nas culturas pela modernidade. Enfim, em tempos de massificação e tentativas de uma cultura se sobrepor a outras nada melhor que exaltar a diversidade e criticar a destruição através de imagens, uma linguagem universal, precisando de apenas uma palavra - Powaqqatsi, que se refere a uma entidade ou modo de vida que consome as forças vitais de outros seres, com o intuito de aumentar suas próprias forças.
3 Comments:
Parece um ótimo filme, vou tentar baixar no Emule... ou será que tem nos Blockbusters da vida?
Em tempo, tomara que o blog tenha vida longa. Se você tem ou não embasamento teórico para falar sobre cinema, não importa, as impressões são mais válidas. Odeio os comentários prontos do Rubem Ewald Filho, parece que é só trocar o nome do filme e está lá, uma crítica nova.
Abraço.
Há uma parte do filme em que as cenas sao reflexos das casas e das pessoas na água.É belíssima. Um reflexo de nós que quase se confunde com uma pintura.
O progresso de fato é um trem. Descarrilhado. Volto sempre, valeu pela visita na cozinha
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